Mobilidade do futuro

Mobilidade do futuro
16/8/2024

Mobilidade do futuro

No Brasil, só 40,6% das pessoas com 18 anos ou mais, realizam atividade física nos níveis estipulados.

Neste mês, comemoramos o Dia Nacional da Saúde, em homenagem ao nascimento de um importante personagem na história da saúde pública brasileira: Oswaldo Cruz. Nascido há 152 anos, Cruz foi pioneiro no estudo das moléstias tropicais e da microbiologia no Brasil. Além da alusão ao nascimento do sanitarista, a data, comemorada em 5 de agosto, visa conscientizar as pessoas a buscarem um estilo de vida mais saudável. 

Falando num estilo de vida mais saudável, o sedentarismo já atinge 31% da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde. Uma pesquisa recente, divulgada pela organização, vê aumento da inatividade física entre 1,8 bilhão de pessoas, na contramão das metas globais de saúde, e os números são preocupantes.

Em 2022, menos de 31% dos adultos não praticaram os níveis mínimos recomendados de atividade física, ou seja, 150 minutos de exercício moderado por semana. O número segue na direção oposta às metas do Plano de Ação Global da OMS sobre Atividade Física, que pretendia chegar a 2030 com uma redução dos níveis de sedentarismo de 15% em relação à taxa de 2010, quando 26% da população era inativa.

A pesquisa detectou ainda uma crescente disparidade na participação baseada em idade e gênero: as mulheres foram 5 pontos percentuais menos ativas que os homens, com 33,8% contra 28,7%, respectivamente. E após os 60 anos, os níveis de inatividade crescem de forma acelerada, chegando a uma média entre 40% e 45% entre as pessoas acima dessa idade e a 75% dos maiores de 80 anos na média dos países da América Latina.

Território nacional

Desde 2021, o Ministério da Saúde do Brasil trabalha para combater o sedentarismo, e, em conjunto com a Universidade Federal de Pelotas, (UFPel), lançou o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, a publicação dividida em oito capítulos, aborda a prática de atividades físicas em diversos contextos, grupos e ciclos de vida. No guia, também, constam recomendações sobre a quantidade, a intensidade e os exemplos de atividades aeróbicas, de força e de equilíbrio, além de indicações para um estilo de vida ativo.

Entre os capítulos estão conteúdos voltados para o público em geral; crianças até 5 anos; crianças e adolescentes até 17 anos; adultos; idosos; gestantes e puérperas; professores de educação física escolar e pessoas com deficiência. O guia se baseou também nas “Diretrizes da Organização Mundial de Saúde, OMS, para atividade física e comportamento sedentário: num piscar de olhos”.

Segundo a OMS, seis em cada dez adultos brasileiros não praticam atividades físicas no tempo livre nos níveis recomendados pela instituição, o que traz riscos para quem é sedentário, como o desenvolvimento de doenças, e prejuízos para a saúde pública. O recomendado, por semana, são pelo menos 150 minutos de atividade física moderada ou 75 minutos em intensidade vigorosa. O ideal é que isso esteja associado a duas sessões semanais de musculação.

No Brasil, só 40,6% das pessoas com 18 anos ou mais, na média das 27 capitais brasileiras e do Distrito Federal, realizam atividade física nos níveis estipulados. Uma pesquisa de 2023 encomendada pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), com cidadãos acima de 16 anos, mostrou que 39% das pessoas nunca fazem atividade física e, outras, 13% as fazem raramente, o que dá 52% do total. O montante de pessoas que praticam exercícios diariamente é de só 22% da amostra.

Exercício democrático

Caminhar é provavelmente o exercício físico mais democrático que existe e pode ser uma forma de você se deslocar na cidade, além de não demandar o uso de aparelhos ou habilidades específicas, basta sair andando. Além de ser uma forma para as pessoas que querem deixar o sedentarismo e buscar um estilo de vida mais saudável.

A Escola de Saúde Pública T.H Chan, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, em publicação, recente, sobre o tema, detalhou os 6 principais benefícios da caminhada, que vão desde um menor risco de problemas cardiovasculares – principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – até a redução de sintomas de ansiedade e depressão.

Pessoas praticando atividade física no Parque Ibirapuera, São Paulo, SP. Foto: Pedro Henrique Santos - Unsplash

Passos por dia

“Um estudo que acompanhou 4.840 homens e mulheres com 40 anos ou mais durante cerca de 10 anos descobriu que aqueles que davam pelo menos 8.000 passos diariamente tinham uma taxa de mortalidade 51% menor por todas as causas em comparação com aqueles que davam 4.000 passos ou menos”.

Afirmam os especialistas de Harvard. Ao mesmo tempo, outro trabalho com 16 mil mulheres americanas acompanhadas por 4 anos descobriu que dar 4.400 passos por dia também faz com que a pessoa tenha uma mortalidade 41% menor em comparação com os que dão 2.700 passos.

“Embora estes estudos confirmam que dar mais passos é bom, a quantidade exata de benefícios para a saúde varia entre os indivíduos. A diretriz dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA diz para “mover-se mais e sentar-se menos ao longo do dia; alguma atividade física é melhor do que nenhuma, essa continua sendo uma meta apropriada para todos”, orienta a publicação de Harvard.

Já os brasileiros andam 1,8 km por dia, em média, durante a ida e volta ao trabalho. Este deslocamento pode variar entre 20 e 30 minutos todos os dias e inclui todos os percursos a pé que integram o itinerário do trabalhador, como troca de um transporte por outro e possíveis baldeações, dentre outras necessidades. Os dados foram obtidos na plataforma de mobilidade da empresa de benefícios VR, considerando os roteiros dos trabalhadores realizados em 17 capitais brasileiras e no Distrito Federal, no período de janeiro de 2021 a abril de 2023. O estudo foi feito numa base de quase 18 mil colaboradores cadastrados pelas empresas que oferecem vale-transporte.

Brasília lidera o ranking das capitais onde o trabalhador mais caminha no deslocamento entre casa e trabalho: são necessários 3,7 km diários, em média, para compor o trajeto. Na sequência, aparecem Porto Alegre (3,6 km), São Paulo (3,1 km) e Rio de Janeiro (2,2 km). São Luís chama a atenção como a capital onde há menos locomoção a pé, com 0,96 km.

Essas cidades, que exigem mais caminhadas, apesar de contar com maior infraestrutura de transporte e grande variedade de modais, possuem extensas regiões periféricas, incluindo chácaras e zonas rurais, o que impacta nas distâncias percorridas a pé. Andar a pé é desafiador para a população brasileira. Segundo dados do Instituto Cordial, 40% das calçadas da cidade de São Paulo, por exemplo, possuem largura abaixo da estabelecida por lei.

Tecnologia vs qualidade de vida

A constante aproximação da tecnologia com as crianças está acontecendo cada vez mais precocemente, segundo a pesquisa TIC Kids Online, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, em 2022, 92% da população com idade entre 9 e 17 anos era usuária de Internet no país, sendo o celular o dispositivo mais usado por crianças e adolescentes. Este "hábito", pode causar algumas repercussões que impactam diretamente na saúde do jovem. Dentre elas, a obesidade infantil e o sedentarismo.

Segundo a OMS, é recomendado que crianças de 2 a 5 anos façam, pelo menos, duas horas de atividade física por dia. Já para as crianças de 5 a 17 anos, o indicado é uma hora por dia. E isso vale para todos os dias da semana. Mas, como incluir os exercícios físicos de maneira democrática?

Conforme a Organização não Governamental APE, nascida, em 2012, a partir da extensão universitária ligada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, USP, com interesse em compreender e debater a mobilidade urbana em um contexto amplo, considerando questões urbanas que vão do planejamento territorial ao direito à cidade das pessoas que a vivem cotidianamente:

"A caminhada é uma prática pedagógica, política, estética, religiosa, filosófica, recreativa, entre outras funções. Então, acreditamos que caminhar, além de contribuir com a despoluição do ar, também nos faz perceber a nossa conexão com o resto do planeta".

Para a ONG, quando se pensa em mobilidade, é necessário levar em conta o tema: “planejado para quem? Pois existem inúmeros exemplos de bairros e condomínios que levam esse nome como se fossem soluções para nossos problemas urbanos, mas na verdade se tornam a causa de grande parte deles. Por exemplo, os bairros “estilo Alphaville” são planejados para um grupo muito restrito de pessoas, aquelas que têm alto poder aquisitivo, que vivem em espaços segregados e completamente dependentes do automóvel, exacerbando as desigualdades que marcam grande parte das cidades brasileiras", afirma a organização.

Além da questão social, a ONG reforça que, "existem outros conceitos que podemos mencionar ao pensar em planejamento urbano visando as cidades que queremos, ambiental e socialmente mais equilibradas. Um deles, debatido atualmente entre profissionais que promovem iniciativas nesse âmbito, é a cidade de quinze minutos, que propõe uma organização em que comércio e serviços essenciais, bem como espaços públicos livres, estejam acessíveis a uma distância equivalente a quinze minutos de caminhada das casas".

Seja qual for a nomenclatura, "vale ressaltar que planejar a partir do bairro é certamente uma forma de pensar a cidade em uma escala mais próxima das pessoas, mas é essencial que junto a isso venham noções como equidade, diversidade e sustentabilidade", conclui organização.

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